Nos calamos ou somos caladas: existe outra opção?

Sofia Hohmann
2 min readNov 8, 2020
Fonte: Unsplash.

Essa semana não foi fácil por aqui, e para você? A lua cheia do último dia 31 foi carregada de energia densa. Passei a semana toda irritada, triste, com baixa produtividade e louca por um chocolate. Não estava entendendo porque estava desse jeito.

É engraçado como funciona a energia coletiva das mulheres. Ninguém estava muito bem essa semana, ainda mais depois das notícias do caso Mariana Ferrer.

Sou aquela pessoa desantenada, fico sabendo das notícias por último. Na quarta-feira, enquanto as pessoas no trabalho e na yoga comentavam sobre, eu não fazia ideia do que elas falavam.

Enfim me inteirei do assunto, li uma matéria e resolvi assistir o vídeo da audiência. Senti raiva, nojo, empatia, e até vergonhosos traços de machismo querendo julgar Mariana.

De repente me vi paralisada pensando no caso. Minhas extremidades começaram a ficar geladas, sentia dores pelo meu corpo, em especial uma pressão forte no coração. Em instantes comecei a chorar, por Mariana, por mim.

Afinal, todas nós mulheres somos colecionadoras de abusos.

A questão que me incomodou foi: o que é consentimento e quem pode julgá-lo? Mesmo que uma mulher tenha iniciado uma relação sexual consentida, ela pode muder de ideia a qualquer momento. Nosso corpo é sutil, ele simplesmente foi ensinado a aceitar atos abusivos para os quais ele não foi feito. Infelizmente normalizamos isso, e muitas vezes não dizemos nada, sem sequer estarmos conscientes do abuso.

Ficamos caladas porque sabemos que se falarmos, acontecerá o que aconteceu com Mariana, seremos caladas pelo outro. Sempre haverá justificativas e questionamentos, nossa voz é facilmente anulada.

Então chorei, porque eu já fiquei calada. No meu aniversário de 18 anos,um menino com o qual eu tinha me relacionado estava na festa com uma outra menina. Após a festa, quis me ajudar a levar os presentes para casa, e lá me trancou no banheiro e queria me forçar a ter algo com ele. Fui salva por uma amiga que estava vindo atrás de nós, não tenho como saber até que ponto ele iria. Mas não falei disso para ninguém além dessa amiga por muito tempo, pois quem ficaria mal falada seria eu. Como a gente já tinha se relacionado, seria considerado aceitável. Na melhor das hipóteses eu receberia um olhar de pena e um “acontece, faz parte”.

Fico pensando… Existe outra opção além de acumularmos abusos em silêncio ou recebermos um “Ah, mas…”? Infelizmente sou pessimista sobre o assunto. As engrenagens da nossa sociedade machista não vão parar de girar tão cedo.

--

--

Sofia Hohmann

Aspirante a escritora, engenheira de bioprocessos e analista de conteúdo, podcaster no Criadoras de Si, praticante de yoga e dona da bicicleta Antonia.