Uma bioengenheira no marketing — uma história de autorização

Sofia Hohmann
4 min readDec 8, 2020
Fonte: Unsplash.

Estou enfim realizada com a minha profissão. As minhas profissões. E esse é o momento ideal para contar a minha história com a palavra que resume muitos dos meus processos esse ano: autorização.

Até poucos tempo atrás, eu contava minha história profissional desde a formatura com receio, justificativas, vergonha. Com um tom de fracasso, como se tudo tivesse saído fora do planejado.

Mas não foi bem assim. Eu sabotei minha própria narrativa. Agora, conto a mim e a você, a verdadeira versão dessa história.

O fim do ciclo da faculdade

Em 27 de novembro do ano passado eu apresentei meu TCC. O fim da faculdade me atormentava, eu me tornei uma reclamona pessimista.

Eu dizia que era impossível conseguir um emprego. Primeiro porque o mercado de trabalho parecia um bicho de sete cabeças. Segundo porque eu me sentia o “patinho feio” do curso.

Eu não queria seguir o caminho a mim destinado como bioengenheira, o caminho óbvio, comum. E não porque eu queria ser diferente, mas porque eu já tinha experienciado eles e entendido que não eram para mim.

As entrevistas de emprego e um momento ruim

Antes de conseguir a entrevista final que me deu um emprego, passei por outros quatro processos seletivos. Hoje olho com mais carinho para esses “nãos”, entendo porque eu não era a pessoa ideal ou o que deu errado. Essas oportunidades acabaram não dando certo porque:

  • Eu não tinha nada a ver com a vaga, e eu e todos os presentes entendemos isso;
  • Eu respondi mal uma pergunta e não compartilhava os valores da empresa;
  • Eu era inexperiente naquele tipo de entrevista e interpretei errado a proposta dela;
  • Eu não aceitei o salário proposto — irônico, pois era maior do que eu acabei aceitando no meu primeiro emprego.

Essas recusas me levaram para um lugar bem ruim, com bastante instabilidade emocional e desânimo.

Um período sem entrevistas e a volta para a psicóloga

Em março, eu estava no fundo do poço — sem drama, é sério. E foi nesse momento que decidi voltar para a primeira psicóloga que tive, lá no começo da faculdade. A única com quem realmente me conectei.

Já na nossa primeira sessão, a única presencial que tivemos, falamos sobre carreira e a busca por emprego. E ela me introduziu à ideia de autorização. Eu não me permitia ser uma bioengenheira, eu me subestimava totalmente.

A porta de entrada

As vagas estavam escassas por conta do coronavírus. Eu já estava ressignificando muitas opiniões sobre mim mesma.

Foi então que minha caloura de faculdade, que trabalhava em uma fintech de negociação de dívidas, me avisou de uma vaga. Era de assistente de atendimento ao cliente. Ela me avisou que o salário seria baixo e a função simples. Eu concordei e passei no processo seletivo.

Eu abracei aquela oportunidade. Eu me dediquei, atendia cerca de 250 pessoas por dia por e-mail. E eu busquei “o que mais eu poderia fazer ali”. Eu me tornei uma bioengenheira excepcional em atendimento ao cliente em algumas semanas.

Em paralelo, eu continuei escrevendo, produzindo conteúdo para o linkedin e fazendo cursos de marketing. E isso me levou exatamente para onde eu deveria estar hoje.

A grande virada nessa história

Dois meses depois do meu primeiro dia, o Head de Marketing pediu para conversar comigo. Ele queria perguntar sobre o que achei do curso de Copywriting que eu tinha feito recentemente e se eu tinha interesse em Marketing, pois o CEO da empresa tinha gostado dos meus textos no linkedin.

Eu nem acreditava que aquilo estava acontecendo. Eu pensei que “ah, depois de uns 6 meses de empresa talvez eu tenha chance de migrar para outra área”. E lá estava a oportunidade de viver o marketing.

Durante um mês e meio trabalhei nas duas funções, para que eu pudesse avaliar meu interesse em migrar de área, e eles avaliarem se fazia sentido eu ser a pessoa contratada.

No dia primeiro de outubro, 3 meses e meio depois da minha contratação, eu começava como Analista de Conteúdo Jr. no marketing. Demorei um mês para perder meus medos de falhar e me autorizar como profissional de marketing. Além disso, a minha formação em engenharia de bioprocessos e biotecnologia ainda me assombrava, como um alerta de “está tudo errado”.

Hoje, me reconheço e autorizo. Sou bioengenheira e analista de conteúdo. Os dois não são opostos, são complementares. Eu amo escrever e gerar resultados para a empresa por meio da minha criatividade. E sei que minha bagagem da engenharia de bioprocessos e biotecnologia é o meu diferencial.

Eu desencanei de pensar no passo seguinte. Atraímos o que emanamos, o que for para ser será. Espero unir o marketing de conteúdo com a biotecnologia um dia? Com certeza. Podem surgir outras profissões? Quem sabe. Por hora, eu me autorizo nessas duas.

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Sofia Hohmann

Aspirante a escritora, engenheira de bioprocessos e analista de conteúdo, podcaster no Criadoras de Si, praticante de yoga e dona da bicicleta Antonia.